Você mente quando conta um sonho para alguém.
Você sabe bem como é: apareceu uma pessoa nos teus sonhos, mas na cena seguinte, já era outra. Você estava em um local que, na sequência, já não era mais o mesmo. Logo, quando vamos contar o sonho, precisamos inventar um pouquinho. Construir pontes que tragam alguma coerência e interesse para a narrativa.
Interpretar os sonhos, dessa forma, é dar significado a uma história que, em partes, você inventou. Vale alguma coisa interpretar uma história mal contada?
É difícil admitir, mas o mesmo acontece com as nossas memórias. Vários estudos mostram o quanto elas são modificadas a cada novo relato. Falar do passado é reconstrui-lo a cada palavra. E falar do passado é também construir o filtro que vai interpretar o futuro.
Enfim, temos três opções: 1.continuar inventando narrativas interessantes, 2.falar sobre memórias e sonhos da forma fragmentada, imprecisa e desconexa que são, ou 3.não falar nada. Eu gosto da primeira e da terceira.